Alzira, doente externa…

Alzira nasceu em 1910 em Parada de Cima e vivia em Calvão, Vagos. Os primeiros sintomas da doença foram a sensação de adormecimento dos pés, mas não sabia o que era.
Em novembro de 1948 foi rastreada por uma Brigada Médica do Hospital Colónia Rovisco Pais. Residia com os pais e uma sobrinha numa casa com quatro compartimentos, sem luz, sem água canalizada, localizada dentro da povoação. Os seus cinco irmãos encontravam-se no Brasil.
Quem contactava com os doentes era referenciado com o termo “comunicante” e também eram abrangidos por exames regulares de forma a identificar manifestações de contágio. Mas neste caso os resultados foram negativos.
À data do primeiro rastreio pela Brigada Móvel, e segundo a sua Ficha Epidemiológica Clínica, Alzira apresentava já eritema total da face, manchas de tipo tuberculoide no tronco na região glútea, hipoestesia termo-tátil nos membros inferiores, mal perfurante plantar do pé direito. Realizados os exames constatou-se que era uma doente com a forma benigna e mais localizada da doença.
Passou a ser seguida pelo Hospital, existindo registos em “Fichas de Revisões” feitas quer em visita domiciliária, quer na consulta externa no Hospital Colónia Rovisco Pais entre os anos de 1952 e 1968.
A partir de 1952 as manchas entraram em fase de regressão, mantendo-se os restantes sintomas. Entre 1957 e 1968, aquando das revisões são referidas reabsorção ósseas de algumas falanges distais da mão esquerda, marcha polineurítica, permanecendo o perfurante plantar no pé direito que apresentou sinais de cicatrização em 1966.
Nestas revisões médicas Alzira recebia, instruções e medicação como drageias de sulfona (Diasona), pó de sulfamidas, pomadas e gaze.
Entretanto, Alzira tinha deixado de ser acompanhada pelo Hospital, em virtude da reestruturação da assistência à doença de Hansen em Portugal.
Em 1991, o serviço social do Hospital Colónia Rovisco Pais, procurou efetuar uma atualização do ficheiro registando todos os doentes que tinham falecido, e nesse contexto solicitou informação à junta de freguesia para saber se a ex-doente ainda era viva. Alzira, nome com que tinha sido batizada, ainda era viva, embora estivesse acamada, mas era conhecida por outro nome, o que havia sido registado na conservatória.
(Baseado em documentos do Arquivo do HCRP. Pesquisa e redação por Cristina Nogueira – CulturAge)


