Sr. Maia, padeiro
Manuel Maia de Jesus era da Tocha e quando era miúdo recorda-se da construção do Hospital e dos carros de bois carregados com materiais.
Em 1961 iniciou funções na padaria do Hospital, como ajudante. Estava na profissão há já alguns anos. Tinha trabalhado em Azambuja (Ribatejo) e em vários locais na Tocha. Um dia “faltou um padeiro e eu vim fazer uns dias. Acabei por ficar.” Ganhava, nessa altura, 700 escudos por mês. “Trabalhavamos das sete da manhã às cinco da tarde e cozíamos pão para o outro dia, depois do 25 de Abril tudo se alterou e passámos trabalhar durante a noite para eles comerem pão fresco todos dias.”
Manuel, gostava do seu ofício e descreveu-nos como tudo funcionava. A padaria situava-se numa ala da cozinha geral e o forno era a gasóleo. Todos os dias “recebíamos uma requisição da despensa com o número que devíamos cozer. Eram cerca de 40 a 60 quilos de farinha. O pão era de trigo, natural. E havia dois tipos de pão, um maior para as refeições e outros mais pequenos para os lanches.”
Contou-nos que os funcionários também requisitavam pão, para levarem para casa, sendo a quantia descontada no ordenado ao fim do mês. E que na Páscoa e no Natal faziam um bolinhos doces para os doentes.
No decurso da entrevista, fomos ao local onde se situava a antiga padaria e o Sr. Maia ia descrevendo tudo como se tivesse saído ontem. Mas já se aposentou em 1991, nessa altura já era chefe. E foi o último padeiro do Hospital como lhe diziam: “Quando o Maia se for embora, fechamos a padaria, não há mais pão para ninguém, e assim foi!”
Contámos-lhe que, noutras entrevistas, alguns ex-utentes do Preventório recordam com saudade o cheiro do pão com a manteiga. E o Sr. Maia respondeu prontamente: “É verdade! A gente fazia aqui um pão excecional, e eu que o diga! Ainda hoje há pessoas que me dizem: o teu pão era uma maravilha!”
Texto baseado em testemunho oral, em 2022. Validado pelo entrevistado. Entrevista e redação por Cristina Nogueira – CulturAge