A lepra ou doença de Hansen é ainda hoje um problema em diversos locais do Mundo. Em Portugal, a doença não afeta mais de uma dezena de casos, mas não era assim até ao século XX. O Hansen Stories tem como objetivo preservar  memórias e partilhar histórias dos que trabalharam ou estiveram internados na última leprosaria portuguesa entre 1947 e 1996 – Hospital Colónia Rovisco Pais.

Inaugurado em 1947, implantado numa área 140 hectares na vila da Tocha – Cantanhede, próximo dos distritos mais endémicos (Coimbra e Leiria), o Hospital Colónia Rovisco Pais tinha como principal missão o estudo, tratamento e erradicação da doença de Hansen em Portugal. O Hospital tinha secções de medicina, cirurgia e fisioterapia, laboratório, farmácia, asilos, núcleos residenciais para doentes, bairro para funcionários, capela, creche e preventório para crianças. Funcionando como dispensário central, incluía ainda serviço de consultas externas, de brigadas móveis e enfermagem domiciliária.

Na sua génese seguia o modelo assistencial correspondente a uma “aldeia de saúde”, em que os doentes estavam inseridos numa colónia agrícola, que se pretendia autossuficiente. À vigilância médica e ao acompanhamento social dos doentes e das suas famílias, juntavam-se ações de reabilitação educativa e profilática, de formação dos doentes, quer através da escola de adultos, quer através das oficinas e brigadas de trabalho que materializavam novas formas de terapia – a ergoterapia e a ludoterapia.

Funcionou simultaneamente como um polo de investigação epidemiológica e um centro dinamizador do ensino de leprologia quer pela realização de cursos internacionais, quer da publicação da “Rovisco Pais: Revista Portuguesa da Doença de Hansen”, que foi enriquecendo a sua biblioteca científica especializada.

A Sasakawa Health Foundation (Japão) tem apoiado um conjunto de iniciativas desenvolvidas no Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais com vista à preservação do património e à musealização de espaços e memórias.

1938 - Campanha "Contra a Lepra" promovida pelo Prof. Bissaya Barreto no jornal A Saúde

O Professor Bissaya Barreto, catedrático da Faculdade de Medicina e Presidente da Junta de Província da Beira Litoral iniciou uma campanha a favor das assistência aos doentes de Hansen. Ao longo de quatro anos foi apresentando naquele jornal o projeto do que viria a ser o Hospital Colónia Rovisco Pais. 

1938 - Criação da Leprosaria Rovisco Pais

Pelo Decreto-lei nº 29.122 foi criada a Leprosaria Rovisco Pais e nomeadas as comissões de elaboração do programa e de obras, das quais faziam parte o médico-cirurgião Bissaya Barreto e o Arquiteto Carlos Ramos.

1947- Inauguração do Hospital Colónia

Nesse ano a legislação portuguesa estabelecera a obrigatoriedade de internamento dos doentes contagiantes (Decreto-lei n.º 36.450). O Hospital Colónia Rovisco Pais foi inaugurado com uma grande cerimónia no dia 7 de Setembro. Os primeiros doentes chegaram no dia 1 de Outubro.

1952 - Inauguração de novas valências

Começaram a funcionar o pavilhão para infetocontagiosos e o bairro residencial para funcionários.

1952 - 1.889 doentes de Hansen

A atividade do Hospital Colónia Rovisco Pais e das brigadas móveis permitiu a identificação de 1.889 doentes em Portugal.

1957 – Visita de Raoul Follereau

Primeira visita de Raoul Follereau, fundador da Associação de Luta contra a Lepra. Voltou a visitar o Hospital Colónia Rovisco Pais em 1968.

1957 – Jornal "Luz"

Início da edição do jornal dos doentes internados, com a premissa "para defesa e reabilitação dos hansenianos".

1960 – Cursos de Leprologia

Realização do Curso Internacional de Leprologia em Coimbra sob a égide da Organização Mundial de Saúde. O ano de 1963 marcou o inÍcio de uma série de Cursos Sumários de Leprologia, que passaram a realizar-se bianualmente no Hospital Colónia Rovisco Pais.

1960 – Cirurgia Plástica e Reconstrutiva

Criado o serviço de cirurgia plástica no Hospital Colónia Rovisco Pais. Um dos cirurgiões que desenvolveu neste hospital esta especialidade foi o Dr. João Veiga Vieira. Em 1963 foram realizadas 95 intervenções neste serviço.

1961 – Conselho Técnico de Leprologia

O Hospital Colónia Rovisco Pais passou a estar sob orientação do Conselho Técnico de Leprologia (Decreto-Lei nº 43.756) que funcionava junto ao Instituto de Assistência aos Leprosos.

1962 - Revista Portuguesa de Hansen

Início da edição "Rovisco Pais, Revista Portuguesa de Hansen", uma publicação regular de cariz científico que deu a conhecer as atividades médicas, científicas e socias do hospital até 1980.

1962 - Centro de Recuperação de Espariz

No dia 25 de novembro foi inaugurado em Espariz (Tábua)o Centro de Recuperação destinado a acolher e apoiar a reintegração social de ex-doentes, após ficarem curados.

1962 - Construção do Locutório

O locutório era um pequeno edifício contíguo à portaria onde os doentes podiam ver os filhos sãos que se encontravam internados na Creche e no Preventório dentro do complexo do Hospital. Esta medida pretendia evitar contágio das crianças.

1966 – Associação de Proteção aos Hansenianos e Famílias

A criação desta associação visava a assistência material aos doentes internados no Hospital e aos seus familiares.

1976 – Assistência em regime ambulatório

O acompanhamento de alguns doentes através das brigadas e da enfermagem domiciliária era feito há vários anos pelo Hospital Colónia que assistia ao recuo da doença, fruto dos resultados das novas formas de terapêutica. Essa realidade permitiu a definição do regime de tratamento ambulatório como preferêncial (Decreto-Lei nº 547).

1984 – Extinção do Instituto de Assistência aos Doentes de Hansen

Verificou-se a extinção daquele instituto, que havia sido criado em 1976 para substituir o Instituto de Assistência aos Leprosos, e a integração das ações de combate à doença na Direcção-Geral dos Cuidados de Saúde Primários. Nessa ocasião existiam 125 pacientes internados, 14 ainda eram portadores ativos do bacilo de Hansen.

1985 – Alta coletiva aos doentes

Concedida a alta-coletiva aos doentes internos e externos que até então se encontravam sob vigilância epidemiológica do hospital. Contudo, alguns doentes decidiram permanecer no Hospital e em 1989 ainda se encontravam 120 doentes a residir no Hospital Colónia Rovisco Pais.

1996 – Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro-Rovisco Pais

O Hospital Colónia Rovisco Pais foi extinto e reconvertido em Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro-Rovisco Pais (Decreto-Lei n.º 203). Para este transitaram todos os direitos, obrigações e património do ex-Hospital Colónia, que continuou a assegurar a prestação de cuidados aos ex-doentes no Serviço de Hansen.